No último post que
compartilhamos são caracterizadas duas abordagens: qualitativa e quantitativa.
Já parou para pensar por que as pesquisas em contabilidade tendem a ser tão quantitativas?
Não, nem sempre foi assim.
Para responder
esta pergunta precisamos entender que a pesquisa em contabilidade pode ser
dividida em duas grandes eras: uma era normativa e uma era positiva. A primeira
era teve seu fim na década de 1960. Sob o domínio desta abordagem normativa, as
pesquisas em contabilidade procuravam determinar quais eram as melhores
práticas e normas contábeis a serem utilizadas pelos praticantes. Nesta
perspectiva, acredita-se que os debates eram mais tangíveis a estes praticantes,
não havendo (ainda) uma lacuna tão grande entre a academia e a prática
profissional – a maioria dos journals tinham
um viés profissional (digamos que ao estilo da IOB).
Brincadeiras à
parte, a segunda era (positiva) emergiu nesta mesma década. Esta renascença das
pesquisas em contabilidade e finanças pode ser explicada por muitos fatores.
Entretanto, destacamos alguns, em especial:
a)
A
publicação da American Accounting
Association (o famoso triple-A)
intitulada “A statement of Basic
Accounting Theory”, firmando pela primeira vez a concepção da contabilidade
ser útil no processo de tomada de
decisão;
b)
As
recomendações sugeridas, tanto pela Fundação Ford, quanto pela Carnegie Corporation, para novas
pesquisas. Ambas publicaram textos recomendando uma pesquisa em contabilidade
mais interdisciplinar, interagindo com disciplinas de psicologia e economia,
por exemplo. Além disto, incentivaram o uso
de testes de hipóteses nas pesquisas em contabilidade;
c)
Surgimento
das primeiras bases de dados financeiras (como o Compustat), facilitando a coleta de dados (sim, antes era tudo
feito manualmente) e a execução de testes estatísticos – hoje temos ferramentas
semelhantes como o Thomsom Reuters, Economatica, Bloomberg, entre outros;
d)
Incentivo,
por parte de universidades norte-americanas, para que os alunos de
pós-graduação se aprofundassem em matérias de metodologia de pesquisa (em
especial, métodos quantitativos);
e)
Uma
mudança na tendência dos periódicos, que passaram a priorizar trabalhos com
viés quantitativo (estatístico).
Nem tudo é mil
maravilhas. Consigo, esta mudança paradigmática trouxe alguns problemas
recorrentemente criticados pela própria academia:
a)
Um
maior distanciamento entre a produção científica e os praticantes. Quem tem
consumido as pesquisas contábeis? Contadores ou apenas outros acadêmicos?
Dyckman e Zeff (2010) são ácidos ao afirmar que uma grande parcela das pesquisas em contabilidade possui impacto
mínimo, se não nulo, para a atividade que conhecemos como contabilidade; (Será
que um contador de um escritório procurará, por exemplo, uma publicação
científica para tentar resolver um problema Y, inerente a sua atividade?)
b)
Espera-se
que uma hipótese possua um bom background
teórico – não basta uma estatística bem aplicada.
Para que possamos
refletir, destaco (tradução nossa) a colocação de Dyckman e Zeff (2010):
Para que e para quem estamos fazendo
pesquisa? (Re)pensemos.
Este
texto é uma reflexão acerca dos trabalhos de Dyckman e Zeff (2010), Oler, Oler
e Skousen (2010) e Brown e Jones (2015).
Dyckman, T. R., & Zeff, S. A. (2015). Accounting
Research: Past, Present, and Future. Abacus,51(4),
511-524. doi:10.1111/abac.12058
Oler, D. K., Oler, M. J., & Skousen, C. J. (2010).
Characterizing Accounting Research. Accounting
Horizons, 24(4), 635-670. doi:10.2308/acch.2010.24.4.635
Brown, R., & Jones, M. (2015). Mapping and
exploring the topography of contemporary financial accounting research. The British Accounting Review, 47(3),
237-261. doi:10.1016/j.bar.2014.08.006